Vivemos numa época em que a liberdade de expressão nos permite revelar nossos mais secretos pensamentos. Falamos sobre nossos pontos de vista, nossas crenças, nossas idéias, e até nossos sonhos. Mas será que falamos sobre nossos sentimentos?
Falar de amor só é fácil nos comerciais de televisão: “amo muito tudo isso” (Mc Donald’s). Hoje em dia, o amor está tão banalizado que não sai da boca do povo: “amo bolo de chocolate”, “amei o seu vestido”, “amo cheiro de café”, “amei o filme de ontem”, e por aí vai. Melhor seria se ao invés da boca o amor estivesse no coração das pessoas.
A impressão que eu tenho é que o amor, de tão grandioso, não cabe dentro de um texto, mas o amor que há em mim sempre encontra uma forma de expressão, seja num abraço, num sorriso, ou nas palavras que escrevo aqui.
O melhor do amor é que quanto mais à gente dá mais ele aumenta, e são tantas as formas de amor que é quase impossível não experimentá-lo. Eu, por exemplo, conheço o amor de filha, amor de mãe, amor de amigo, amor de irmão, amor de amante, amor a Deus, mas tem um tipo de amor que eu não conhecia. Vou lhe contar a história deste novo amor.
Nasci nos anos 60, numa cidadezinha do interior, numa casa de quintal enorme, cheio de flores, árvores e animais. Eu e meus irmãos tivemos uma infância maravilhosa. Brincávamos muito, chupávamos fruta no pé, e criávamos coelhos, codornas, passarinhos, jabutis, galinhas e cachorros.
Sempre tivemos dois cachorros, se morria um chegava outro, mas eu nunca me apeguei a nenhum. Cachorro lá em casa só servia para cuidar do quintal e zelar pelo nosso patrimônio. Eu nem sabia que era possível amar um cachorro como se ama um amigo. E assim eu cresci, mantendo distância afetiva dos cachorros do quintal, até que a Kika entrou na minha vida.
Eu trabalho em São Paulo e moro a 150 Km da capital. Todos os dias eu uso um ônibus fretado para fazer o percurso entre minha casa e o trabalho. Desde que sai da casa dos meus pais, há 25 anos, nunca mais tive animais.
Em fevereiro de 2011 uma cachorrinha preta, vira-latas, começou a entrar na minha varanda. Ela era tão pequena e magrinha, que passava pelas grades do portão. Eu tocava a bichinha, ela saia correndo e desaparecia. No dia seguinte eu acordava bem cedo para ir trabalhar e lá estava ela, dormindo na minha varanda. Eu não tinha a menor intenção de ter um cachorro e tocava ela de novo. De repente lá vinha ela, com um olharzinho comprido, deitava do meu lado na calçada e ficava até o ônibus chegar.
Comecei a dar água e comida para ela, afinal meu coração não é de pedra, mas adotá-la jamais. Durante o dia eu ficava tão absorvida no trabalho que nem lembrava da sua existência, mas à noite, quando chegava em casa, ela estava lá. Parece até que ela sabia a hora certinha de eu chegar, e vinha encontrar comigo pulando e abanando o rabinho.
Os vizinhos diziam que ela ficava o dia inteiro me esperando. Aquilo me comoveu, mas aí eu pensava: “Não posso ter um cachorro, eu moro sozinha, trabalho o dia inteiro, como iria cuidar dela? Além do mais, eu morro de medo de cachorro, nunca vou ter coragem de por a mão nela.”
O tempo foi passando e ela me esperava todos os dias no ponto de ônibus, e continuava dormindo na minha varanda. Até que um dia eu liguei para o meu irmão e levamos a cachorrinha ao veterinário. Ela foi castrada, tomou todas as vacinas, fez um chekup, tomou banho, e voltou para casa cheirosa, com caminha, casinha, brinquedos, ração e lacinhos na cabeça.
Ganhou o nome de Kika e mudou a minha rotina. Hoje eu chego em casa super cansada e vou limpar cocô no quintal, trocar água da vasilha, dar ração, biscoitinhos, e brincar de jogar bolinhas de borracha. Ela adora brincar.
Aos poucos ela foi me conquistando. Hoje ela dorme dentro de casa e recebe muito carinho. O Thomas, meu sobrinho de 3 anos, é louco por ela. Quando estou no computador, ela deita no meu colo e me olha com olhinhos expressivos. É impossível não amar um animalzinho tão doce.
A Kika deu novo sentido a minha vida, e parece entender quando eu converso com ela, tamanha a sensibilidade com que reage aos meus carinhos. Mas não pense você que ela é apenas doce, ela também é muito sapeca. Eu a chamo de “espiruqueta” porque ela tem muita energia e brinca como criança.
Agradeço a Deus a oportunidade de aprender a amar os animais. Hoje, este amor incondicional que eu não conhecia, me enche de alegria. Adote um cãozinho também, eu posso lhe garantir que será muito gratificante.
Veja nas fotos abaixo como a Kika está feliz.
Nota:
Escrevi este texto para participar da festa dos 3 anos do blog "Um pouco de mim."
A Elaine é uma pessoa muito sensível, e quis comemorar o aniversário do seu blog falando de amor. Ela criou um concurso com o tema "Há amor em mim." Eu gostei tanto da idéia, que reslovi participar.
É muito bom compartilhar idéias com você, pode copiar a vontade, mas não esqueça de citar a fonte.